sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pássaros - 13/01/2002


"Sonhada Terra das Palmeiras
Onde andarão teus sabiás?"

          Na minha galeria de artistas preferidos encontram-se vários desconhecidos da maioria do público. Um deles é Taiguara Chalar da Silva, o Taiguara. Num de seus discos, ainda em vinil, lançado em 1976, há entre outros os belos versos acima.
          Vários autores brasileiros falam dos sabiás em suas músicas. Chico Buarque, Tom Jobim, Hervê Cordovil. Recentemente, Marisa Monte gravou uma música de Caetano Veloso onde canta docemente: "Sou sua sabiá, (...) só tenho a voz a cantar, cantar, cantar...". Acredito que muitos desses autores tenham se inspirados no clássico "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá ..."
          Os pássaros são os nossos símbolos de liberdade, talvez por isso é que alguns inconformados com sua mediocridade, teimem em aprisionar pássaros em gaiolas. Todos sonhamos com o dom de voar, o poder do pássaro. Desde o mito de Ícaro até as lendas indígenas, povoadas de gente que virou pássaro e vice-versa. Lembro-me sempre de uma vez que, no cumprimento dos nem sempre confortáveis deveres de pai, coloquei um filho de castigo. Ele me disse, inconformado: "Você vai ver, quando eu for um passarinho, não fico mais de castigo!" Naquele dia aprendi mais com ele do que ele comigo.
          Na nossa cidade ainda existem pássaros. Algumas pessoas ainda conseguem reconhecê-los, poucos se preocupam e cuidam deles. No meu jardim e no meu quintal, teimo em deixar alguns arbustos para hospedá-los. Cuido das flores no jardim para atrair beija-flores e mantenho a garrafinha com água açucarada sempre cheia e limpa. Há pouco tempo notei a presença de sanhaços que insistiam em vir se debater com seu reflexo no espelho de meu carro. Comecei a colocar frutas em alguns vasos de plantas e os sanhaços se tornaram freqüentadores assíduos de minha área. Entre as pedras no quintal mora uma corruíra e um casal de bigodinhos fez seu ninho na buganvília. Mas eu me orgulhava muito era do sabiá que cantava entre as árvores da rua, arisco. Recatado. Este desprezava as frutas de meu jardim, quando eu estava por perto e nunca dava o ar de sua graça, talvez temeroso das histórias que teria ouvido sobre os homens. Talvez ele não estivesse errado. Um dia, andando pela vizinhança, descobri o ninho do sabiá, de onde a fêmea olhou assustada. Deixei-os em paz, no seu ofício de preservar a vida.
          Ontem em visita à cidade de Pratápolis, ao entrar em uma casa, vi uma sabiá tratando de seu filhote. Seu ninho era num vaso de samambaias. Foi aí que notei que meus sabiás pararam de cantar. Ainda não tive coragem de ir até o ninho ver se estão por lá...
          Se alguém que me lê tem um quintal, um jardim, deixe lá uma laranja, um pedaço de mamão, uma banana. Pode ser que meus pássaros tenham se mudado e estejam com dificuldade de se alimentar. Não me importo que outros tomem conta dele e usufruam de seu canto. Só quero que eles continuem a ser para nós esse símbolo de liberdade. E quem sabe, eles em seus cantos, contem a seus filhotes lendas diferentes sobre os homens.

ATUALIZAÇÃO: Os sabiás continuam até hoje fazendo seus ninhos na vizinhança. A foto é atua e foi tirada em minha varando em 24/06/2012.

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